Especialistas explicam por que a matemática ainda é considerada o bicho papão por muitos alunos.
SOBRE A MATEMÁTICA

A
matemática é a ciência do raciocínio lógico e abstrato. Esta ciência
vem sendo construída ao longo dos séculos. Resultados e teorias
milenares se mantêm válidos e úteis e, ainda assim, a matemática
continua a desenvolver-se permanentemente. Registros arqueológicos
mostram que a matemática sempre foi parte da atividade humana. Ela
evoluiu a partir de contagens, medições, cálculos e do estudo
sistemático de formas geométricas e movimentos de objetos físicos. A
matemática se desenvolveu principalmente na Mesopotâmia, no Egito, na
Grécia, na Índia e no Oriente Médio. A partir da Renascença, o seu
desenvolvimento intensificou-se na Europa, quando novas descobertas
científicas levaram a um crescimento acelerado que dura até os dias de
hoje. A matemática é usada como uma ferramenta essencial em muitas áreas
do conhecimento, tais como engenharia, medicina, física, química,
biologia e ciências sociais.
HISTÓRIA

Além
de reconhecer quantidades de objetos, o homem pré-histórico aprendeu a
contar quantidades abstratas como o tempo, os dias, as estações e os
anos. A aritmética elementar (adição, subtração, multiplicação e
divisão) também foi conquistada naturalmente. Acredita-se que esse
conhecimento é anterior à escrita e, por isso, não há registros
históricos. A matemática começou a ser desenvolvida motivada pelo
comércio, medições de terras para a agricultura, registro do tempo e
astronomia. A partir de 3000 a.C., quando babilônios e egípcios
começaram a usar aritmética e geometria em construções, na astronomia e
em alguns cálculos financeiros, a matemática começou a se tornar mais
sofisticada. O estudo das estruturas matemáticas começou com a
aritmética dos números naturais, seguiu com a extração de raízes
quadradas e cúbicas, resolução de algumas equações polinomiais de
segundo grau, trigonometria e frações, entre outros tópicos. Por volta
de 600 a.C., na civilização grega, a matemática, influenciada por
trabalhos anteriores e pela filosofia, tornou-se mais abstrata.

Dois
ramos da matemática se distinguiram: a aritmética e a geometria. Na
época do Renascimento, uma parte dos textos árabes foi estudada e
traduzida para o Latim. A pesquisa matemática se concentrou então na
Europa. O cálculo algébrico desenvolveu-se rapidamente com os trabalhos
dos franceses François Viète e René Descartes. Nessa época, também foram
criadas as tabelas de logaritmos, que foram extremamente importantes
para o avanço científico dos séculos XVI a XX, sendo substituídas apenas
depois da criação dos computadores. A percepção de que os números reais
não são suficientes para a resolução de certas equações também data do
século XVI. Já nessa época começou o desenvolvimento dos chamados
números complexos, apenas com uma definição e quatro operações. Uma
compreensão mais profunda dos números complexos só foi conquistada no
século XVIII, com Leonhard Paul Euler, um grande matemático e físico
suíço. A matemática ainda continua a se desenvolver intensamente por
todo o mundo, nos dias de hoje.
O ENSINO

A
matemática e até mesmo outras matérias, desde o descobrimento do
Brasil, eram ministradas pelos jesuítas, até a expulsão deles, em 1759.
Desta data até 1808, os ex-alunos dos jesuítas ficaram encarregados do
ensino. De 1808 a 1834 a matéria era ministrada nas escolas do exército e
da marinha e, a partir de 1873, também nas escolas de engenharia. Em
1874 foi criada a Escola Politécnica, a partir da Escola Central –
ex-Escola Militar. A Escola de Minas de Ouro Preto foi criada em 1875 e a
Escola Politécnica de São Paulo em 1893. Assim, o ensino da matemática
passou também a ser oferecido em escolas não militares.

Ela
é o terror de muitos alunos. Basta a expressão “resolva o problema”,
usada nos exercícios da matéria, para causar arrepios e depressão. Mas,
será que a matemática, cujo Dia Nacional é comemorado no dia 6 de maio, é
mesmo esse pavoroso bicho papão? De acordo com pesquisa recente,
encomendada pela UNESCO ao Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da
Universidade Federal de Minas Gerais, cerca de 40% dos alunos que
concluíram o Ensino Fundamental em escolas públicas, entre 2005 e 2009,
não absorveram o nível básico da disciplina que é esperado nessa etapa.
RAZÕES PARA A REJEIÇÃO

Segundo
o professor de matemática Luciano Santana, do Colégio Padre Antônio
Vieira, do Rio de Janeiro, três fatores contribuem para a rejeição à
matéria. O primeiro é histórico: algumas escolas criaram o mito de que
aprender matemática é difícil. Basta dizer que, no século VI a.C., os
alunos que pretendiam entrar para o Instituto de Pitágoras, chegavam a
ficar 12 horas trancados em celas para desvendar enigmas matemáticos e,
se não conseguissem êxito, eram humilhados perante seus pares.

O
segundo fator que contribui para o medo com relação à matemática,
segundo o professor, se baseia na psicanálise: de acordo com Sigmund
Freud (foto), considerado o pai da psicanálise, o processo de
aprendizagem está ligado ao prazer de aprender; portanto, a falta de
motivação, por parte do professor, e de aulas dinâmicas, principalmente
nas fases iniciais da aprendizagem, contribuem para a rejeição nas
etapas mais avançadas do ensino. O terceiro motivo, segundo Santana, é o
currículo estudado, considerado por ele muito extenso e cobrado num
nível alto de aprofundamento. “Conteúdos como números complexos não
fazem sentido no Ensino Médio, para quem não vai tentar áreas como
engenharia”, explica ele.
CRIANÇAS

A
professora de matemática da Universidade Federal de Uberlândia,
Cristiane Coppe, explica que as crianças da Educação Infantil gostam da
matéria, pois ela é ensinada de forma lúdica e trabalhada sempre de
maneira concreta. Mas, depois que os estudantes começam a estudar as
disciplinas isoladamente, há, na avaliação da professora, um rompimento
do concreto para o abstrato. “Essa passagem se dá de modo brusco, no
processo de ensino e aprendizagem da matemática, o que a torna sem
significado. Como se pode gostar de algo que não se entende?”

Já
no fim do Ensino Fundamental, a matemática deixa de ser o bicho papão e
passa a ser o bicho de sete cabeças, formado também pela química e pela
física. “O fato de um aluno não gostar de matemática terá grande
influência em química e física, matérias que dependem muito das
ferramentas da matemática em seus cursos. A vantagem dessas duas últimas
ciências é que elas podem oferecer aulas em laboratórios para quase
todos os conteúdos abordados, o que, em matemática, não é tão fácil”.

Para
estimular os alunos, Santana explica que o Colégio Padre Antônio Vieira
realiza maratonas de matemática, inspiradas nas olimpíadas da Sociedade
Brasileira de Matemática. Os três melhores colocados são premiados com
média 10 na disciplina. “O que observamos é que os alunos que não gostam
de matemática participam efetivamente, pois existe o estímulo de obter a
nota 10. Além disso, a prova é possível de ser feita por eles, pois não
prioriza conteúdos, uma vez que utilizamos questões de raciocínio
lógico também”. Santana acredita que o primeiro passo para os alunos
encararem a matemática como algo menos complicado é melhorar a
qualificação dos profissionais na educação básica: “É preciso oferecer
mais conhecimento matemático, pois a maioria dos professores tem um
conhecimento limitado. O segundo passo é cobrar dos pais maior empenho
no processo. E, por último, rever urgentemente o currículo oferecido”.
Já Cristiane ressalta que o educador deve mostrar que há diversos
caminhos para a resolução de um problema matemático: “Ele deve
possibilitar ao aluno a investigação matemática, a experimentação com
erros e acertos e a formalização de conceitos, após observações em um
ambiente propício à aprendizagem”.
MALBA TAHAN

Um
dos educadores que fizeram isso com maestria foi o professor Júlio
Cesar de Mello e Souza (1895-1974), que usava o pseudônimo de Malba
Tahan (foto). “O que considero mais relevante nos livros do professor
Júlio Cesar é a junção genial de ciência, imaginação, matemática e
cultura árabe”, diz Cristiane, que é estudiosa da obra do autor. O livro
mais conhecido de Malba Tahan, “O Homem Que Calculava”, é um conto
matemático. São narrativas que se desenrolam com a personagem Beremiz
Samir e utilizam conceitos como história da matemática, resolução de
problemas e etnomatemática, entre outros. Malba Tahan conquistou
leitores no mundo inteiro, através da matemática, e mostrou que o
aprendizado da ciência pode ser muito divertido. Em sua homenagem, o dia
do seu aniversário, 6 de maio, foi decretado o Dia Nacional da
Matemática.
O Homem que Calculava

Romance
de Malba Tahan , narra as aventuras e proezas matemáticas do
calculista persa Beremiz Samir, na Bagdá do século XIII. Foi publicado
pela primeira vez em 1938 e já chegou à 75ª edição. A narrativa, dentro
da paisagem do mundo islâmico medieval, trata das peripécias matemáticas
do protagonista, que resolve e explica, de modo extraordinário,
diversos problemas, quebra-cabeças e curiosidades da matemática. Inclui,
ainda, lendas e histórias pitorescas, como, por exemplo, a lenda da
origem do jogo de xadrez.
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