Será mesmo que pessoas ricas não são generosas?
O excesso de dinheiro é comumente visto como um fator capaz de nos transformar em pessoas mesquinhas, mais desonestas e, inclusive, menos humanas. Um estudo recente, conduzido por Robb Willer, professor de Sociologia da Stanford University, e que foi realizado por meio de análise de dados, revelou que as coisas podem não ser bem assim.
Os cientistas avaliaram informações de 1.500 pessoas norte-americanas. Entre os dados analisados estão a renda familiar e estado de origem dos participantes. Para testar a generosidade das pessoas, os pesquisadores disseram que elas ganhariam 10 cupons de rifa, e que poderiam também dar um desses cupons a outro participante, que teria ficado sem nada.
Em estados considerados com níveis altos de desigualdade social, as pessoas mais ricas são menos generosas do que as pessoas que têm menos dinheiro. Já nos estados com menores níveis de desigualdade social, os ricos eram mais generosos. Curioso, né? Isso sugere, basicamente, que a generosidade das pessoas ricas tem a ver com o nível de desigualdade social existente no ambiente onde essas pessoas vivem.
Vale sempre lembrar que esse tipo de pesquisa não costuma ser conclusivo, mas sim levantar ainda mais questionamentos. Nesse sentido, os cientistas se perguntam quais são os motivos por trás dessa diferença de comportamento conforme o ambiente no qual vivem as pessoas pesquisadas.
Será que pessoas ricas e generosas preferem viver em locais com menores índices de desigualdade social? Ou será que existe alguma coisa que faz com que as pessoas ricas fiquem menos generosas quando elas vivem em lugares com altos níveis de desigualdade?
Para tentar responder a essas perguntas, a equipe de cientistas resolveu realizar mais uma pesquisa. Dessa vez, eles manipularam as percepções de igualdade social de cada estado. Em seguida, mostraram esses dados inventados a 700 pessoas de todo o país. Algumas pessoas viram dados negativos a respeito do próprio estado, enquanto outras viram dados positivos a respeito do lugar onde viviam.
Depois, como aconteceu no estudo anterior, os pesquisadores fizeram o mesmo teste dos cupons de rifa (o prêmio era US$ 500 em dinheiro) e disseram aos participantes que eles poderiam doar cupons a alguma pessoa desconhecida.
Dessa vez, os resultados revelaram que quando pessoas ricas achavam que viviam em um estado com altos níveis de desigualdade social, elas eram menos generosas. Quando achavam que viviam em um estado com baixos níveis de desigualdade, não tinham nem mais nem menos generosidade em comparação às outras pessoas.
Os resultados desse teste complementar nos mostram que quando pessoas ricas agem de modo menos generoso, não significa que elas sejam egoístas natas. Além do mais, quando pessoas ricas eram induzidas a acreditar que tinham um status menor, elas agiam com mais generosidade. Quando acreditavam que eram ainda mais ricas, se tornavam mais mesquinhas. Isso sugere que, de fato, há uma direta relação entre o status social de um indivíduo e a maneira como ele demonstra generosidade.
A relação entre poder aquisitivo e generosidade, de acordo com os autores do estudo, pode ter a ver com a crença de que pessoas ricas são mais importantes e mais merecedoras do que as outras. Essa questão de mérito ajuda as pessoas ricas a justificarem sua fortuna e, por consequência, sentirem menos necessidade de demonstrar generosidade em relação às outras pessoas, com base na ideia de “se eu batalhei e consegui, qualquer um pode fazer o mesmo”.
Os pesquisadores acreditam, ainda, que altos níveis de desigualdade podem fazer com que as pessoas ricas se preocupem mais com a ideia de perder status e dinheiro.
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